De que forma a psicologia pode ajudar os pacientes renais crônicos? Fizemos essa enquete nas redes sociais da Pró-Rim e recebemos as principais dúvidas sobre o tema, que foram esclarecidas pela coordenadora do setor de Psicologia da Fundação, Rosa Gasparino.
A série de perguntas e respostas já abordou temas como hemodiálise, diálise peritoneal e nutrição para pacientes renais. Confira a entrevista:
A IMPORTÂNCIA DO PSICÓLOGO
1. Em que momento devo procurar um psicólogo?
Isso depende de cada um, mas o ideal é que, a partir do momento em que fosse diagnosticada a insuficiência renal crônica, o médico encaminhasse o paciente para uma consulta com o psicólogo. Mesmo antes da hemodiálise, pois o paciente que é preparado antes lida melhor com o tratamento.
2. Como encarar a vida de crônico renal? Como aceitar a doença, o tratamento e as limitações?
Encarar o problema de frente, o que não é uma coisa fácil. Desmistificar a doença e o tratamento. É normal do ser humano tentar responsabilizar alguém quando algo de errado nos acontece. Por exemplo, a gente bate o carro, mas diz que foi o motorista da frente que freou muito sem precisar. Por isso, o paciente precisa procurar ajuda, pois é um momento muito difícil mesmo. Além disso, ele deve olhas os bons exemplos, as pessoas que lutam e conseguem ter uma boa qualidade de vida apesar da doença. Nada é de graça na vida, depende de muito esforço e muita força de vontade.
3. O que diz a legislação quanto ao atendimento multidisciplinar nas clínicas de hemodiálise, sendo a psicologia um dos itens, no que se refere ao quantitativo de profissionais, frequência de atuação e qualidade dos serviços junto aos pacientes?
A legislação obriga a existência de um psicólogo em cada clínica de diálise e na Pró-Rim nós cumprimos essa exigência em todas as nossas unidades. A frequência do atendimento depende da demanda do paciente. Se ele precisar, pode ser atendido em todas as sessões de diálise, quem define isso é o psicólogo, o paciente e a equipe.
A DEPRESSÃO E OS RENAIS CRÔNICOS
4. Quais doenças psicológicas são mais comuns em pacientes renais?
A depressão é uma das doenças mais comuns. O paciente renal crônico pode ter depressão pela própria condição da doença, que gera mudança em seu dia a dia. Ele passa a depender de um tratamento para o resto da vida (mesmo o transplante é um tipo de tratamento). Precisa tomar medicações, tem limitações na sua vida profissional, normalmente necessita de auxílio-doença, o que pode gerar também um problema financeiro, pois reduz a renda. Pode haver também uma alteração do papel familiar, pois o paciente, antes provedor da família, passa a ser dependente. Tudo isso influencia.
5. Por que a psicologia não ajuda o paciente nas suas crises de depressão ou permanece mais tempo com a família?
Na Fundação Pró-Rim, o paciente renal, tanto em tratamento de hemodiálise quanto de transplante, é acompanhado pela psicologia. Todas as nossas clínicas têm psicólogos. Buscamos dar o melhor acompanhamento, mais próximo possível. Procuramos acolher a família e orientar para que ela possa lidar com esse tratamento, pois os familiares têm uma tendência de superproteger. A doença crônica é longa e acaba sobrecarregando a família. Então, nós orientamos a família a dar suporte, mas fazer com o que o paciente caminhe com as próprias pernas. Com relação ao paciente, damos apoio no momento das crises e trabalhamos para que ele seja participativo, para que ele busque e descubra suas capacidades ocupacionais ou de trabalho. Tentamos reduzir ao máximo a depressão e aumentar cada vez mais a participação desse paciente no seu tratamento.
6. Por que pacientes com insuficiência renal crônica têm depressão, síndrome do pânico e outros tipos de transtornos?
Toda pessoa com uma doença crônica tem conflitos psicológicos, porque a doença vem de uma forma que muda sua vida e muitas vezes força a pessoa a refazer seus planos. No entanto, o renal crônico pode ter uma qualidade de vida boa se tiver uma aceitação da doença e do tratamento. Nós sabemos que cada ser humano tem uma forma de lidar com as intercorrências da vida. Normalmente o paciente, quando descobre a doença renal, entra numa fase de negação, para depois vir uma fase de alegria (quando começa o tratamento e ele tem uma melhora física), em seguida vem a revolta (por causa do tempo de tratamento e é quando ele se depara com a falta de cura), para depois vir a ter uma aceitação. Quando ele chega nessa fase consegue lidar melhor, ser participativo.
A PSICOLOGIA NO PRÉ E PÓS-TRANSPLANTE
7. Como se manter preparado psicologicamente no período pré e pós-transplante?
O paciente deve ter a percepção real do transplante, entender que não se trata de algo milagroso, mas certamente representará uma melhora em sua qualidade de vida. Além disso, ele precisa seguir todas as orientações da equipe multidisciplinar antes e depois da cirurgia. Normalmente, o paciente que é cuidadoso na diálise será também após o transplante.
8. De que forma o psicólogo orienta o paciente que deseja fazer o transplante renal?
O ambulatório de transplantes da Fundação Pró-Rim orienta os pacientes tanto no pré como no pós- transplante. Fazemos a avaliação, acompanhamos e trabalhamos muito com orientações, mostramos como é o transplante, os riscos e principalmente que ele tem que ser participativo e lutar, pois podem haver intercorrências no transplante. Durante o período de internação, também acompanhamos o paciente no hospital, assim como no pós-transplante e para o resto da vida.
9. Como o psicólogo deve abordar o paciente que está preparado para o transplante, mas não deseja realizá-lo?
O desejo do transplante tem que ser do paciente. O transplante só dá certo se o paciente for aderente ao tratamento, se seguir as orientações, tomar os medicamentos rigorosamente no horário e vier a todas as consultas. Um dos aspectos que a gente trabalha no pré-transplante é exatamente esse: de quem é o desejo do transplante? É da família, da equipe ou do paciente? É claro que inicialmente pode partir da família, mas precisamos saber se ele realmente tem esse desejo.
10. Qual é a função do psicólogo depois que a pessoa decide fazer o transplante?
O psicólogo acompanha o paciente em todos os momentos da doença renal: na hemodiálise, no CAPD, no pré-transplante, durante a internação e após o transplante. Depende de como o paciente está lidando com isso. Às vezes, ele diz que está bem, que não tem problema nenhum, mas não está vindo às consultas adequadamente, está com conflitos familiares ou perdeu o emprego. Então, esse paciente precisa de suporte.