
Jaqueline Pereira, nascida e criada em Joinville (SC) é professora, divorciada, tem 35 anos e há 16 anos é transplantada e vive com um rim que recebeu do pai. Em 2014, bastante debilitada, precisou ser hospitalizada devido a uma intercorrência causada por uma infecção urinária.
Refletia, agora, sobre esta fase da sua vida. Lembrava que antes da doença, vivia cercada por amigos e participava intensamente de festas e baladas. De repente, a vida a afastou abruptamente de toda a alegria daqueles momentos festivos, de felicidade instantânea.
Por conta das limitações físicas, sentia-se triste, sozinha, sem os amigos da época e quase nenhuma perspectiva de voltar a ser feliz. Por isso, os dias foram ficando todos iguais e ela pouco esperava da vida. Resignação era a definição que mais expressava o que Jaqueline sentia naquele momento.
No quarto ao lado, também internado, estava Oberdan da Silva Barbosa, um profissional da área de segurança, 44 anos, solteiro, recém transplantado, que veio do Amapá (AP). Ele atravessou o país para recuperar a saúde em Joinville (SC).
Assim como Jaqueline, antes de ficar doente, ele também levava a vida com muita festa e pouca preocupação com o futuro. De repente, diz ele, o céu caiu sobre a sua cabeça e nada mais seria como antes. Em poucos meses de espera, graças à generosidade da família de uma garota de 18 anos, que morreu vítima de acidente, Oberdan ganhou outra oportunidade de viver. Com rim novo, estava começando uma vida sonhada e, ao mesmo tempo, desconhecida. Adaptação era a palavra que mais tentava entender agora.
Neste ambiente de realidade incerta, onde as horas custam a passar, o destino tece a sua teia e entrelaça vidas tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguais. Uma caminhada no corredor do hospital, um olhar, um sorriso e uma conversa tímida, porém, com muitas afinidades. Depois, um jogo de baralho, a aceitação de amizade nas redes sociais e a troca de mensagens.
A partir daí, a aproximação é inevitável e em poucos dias, atropelando a timidez dele, ela o pede em namoro. Começava uma comovente e bonita história de amor. Segundo ela, Oberdan é um anjo enviado por Deus para cuidá-la e protegê-la. Para ele, estar com Jaqueline significa a fase mais feliz da sua vida e a necessidade constante de estar sempre ao lado dela, em todos os minutos, até para ir à padaria ou acordá-la com uma bandeja de café da manhã.
O casal noivou na Páscoa e tem casamento marcado para o final do ano. Planos para o futuro? Não exigem muito. Querem apenas estar sempre juntos, na saúde ou na doença. Vivem como dois adolescentes que descobriram a magia e a doçura do amor. Gostam de receber amigos e cozinhar para eles. O círculo de amizades deles é composto na maioria por pacientes renais, pessoas com dificuldades em comum, que os vêem como referência nos momentos de insegurança.
Jaqueline discorda quando alguém observa que estão apaixonados. Ela explica que paixão é um sentimento avassalador, mas que pode acabar. O que ela quer dizer é que essa força ultrapassou a fronteira da paixão e germinou no terreno fértil e sereno do amor.
Oberdan concorda com a companheira e revela que diversas vezes por dia eles sentem necessidade de dizer um para o outro a frase “eu te amo”, que tanto emociona os namorados. Por isso, Jaqueline adianta que neste primeiro Dia dos Namorados na vida do casal, além do presente e do jantar à luz de velas para o seu amor, ela fará uma surpresa romântica, simples, porém, marcante, própria dos namorados que amam, incondicionalmente.