
Esta é uma atividade constante na vida do casal. Um dia eles estão na Sociedade Floresta, no outro, Alvorada, depois no Vera Cruz e também participam do Clube dos Boêmios na Recreativa dos Comerciários. Chegam a freqüentar até dois clubes no mesmo dia. O que importa é a sincronia da música com as passadas ritmadas. Para ela, felicidade é poder dançar com o marido. “Sinto-me viva e com liberdade”, define.
Quem vê essa mulher de 55 anos de idade, traços orientais, olhos puxados, com menos de um metro e cinqüenta de altura, a dançar nesta alegria contagiante, não imagina o drama pessoal que ela enfrenta nos últimos doze anos, dividindo momentos de angústia e superação.
Harumi Alice Sadahira é neta de japoneses. Nasceu em Ourinhos (SP), mas viveu nos últimos 20 anos em Palmas (TO), período em que abriu um comércio de materiais de construção. É divorciada e tem dois filhos do primeiro casamento.
Certa vez, quando dirigia o seu carro, em Araçatuba, interior paulista, sentiu-se mal e no hospital descobriu que havia perdido as funções renais. Em seguida entrou em hemodiálise, tratamento que substitui os rins por uma máquina. Nesta mesma época conheceu Luiz Carlos da Silva, funcionário público. A grande afinidade dos dois surgiu com a dança. Estão juntos desde então.
Em 2006, iniciou diálise na Fundação Pró-Rim, instituição com matriz em Joinville, que acabara de se instalar em Palmas, no Tocantins. No ano seguinte, em Goiás, entrou em lista de espera para tentar realizar o transplante. A fila não andava e para complicar, o seu Painel Reativo de Anticorpos (PRA) era muito alto, o que impedia a realização do transplante. Esse painel é um exame de sangue que mede a quantidade de anticorpos. Quanto mais alto, menos indicado para o transplante.
Em 2013 alguns colegas de hemodiálise, em Palmas, viajavam a Joinville para fazer o transplante, em curto espaço de tempo. Ela ficou entusiasmada com esta possibilidade. Mas, ainda havia alguns obstáculos a superar como o painel alto e morar sozinha em uma região desconhecida. É que ainda faltava um ano para o marido se aposentar. Então, ela decidiu adiar este planejamento para ter a presença do companheiro no ano seguinte.
Apesar da doença, Harumi continua ativa. É ela quem cuida da casa e do marido. Segundo Luiz Carlos, a mulher está sempre disposta e nunca reclama da doença. “Dirige o automóvel, sente prazer em cozinhar e cuidar da roupa, mas, a grande alegria dela, sem dúvida, está na magia da dança”, enfatiza o marido. Para ela, dançar faz parte do seu tratamento. “A dança e a máquina de hemodiálise me mantêm viva e uma complementa a função outra”.
Harumi mantém a esperança do transplante, mas garante que não há ansiedade nesta espera. Quando acontecer, já tem planos: pretende viajar com o marido pelo mundo e dançar muito. “Sou apaixonada pelo meu marido, pela vida e pela dança. Se eu conseguir realizar o transplante, então, a felicidade vai ficar completa”, diz emocionada.