A coordenadora de transplantes da Pró-Rim conta como tem sido o tratamento dos pacientes transplantados em meio a pandemia e as orientações para prevenir a contaminação do vírus.
Os pacientes renais crônicos são considerados grupos de risco para a Covid-19. Pacientes transplantados renais possuem imunidade ainda mais baixa, o que exige cuidados especiais. O ambulatório de transplantes renais da Pró-Rim adotou algumas medidas específicas nesse período, como a teleconsulta. A orientação é para que os pacientes renais se cuidem com relação aos riscos do coronavírus, mas não deixem de tratar as suas doenças crônicas.
Para dar um panorama da realidade dos pacientes do ambulatório de transplante nesse cenário, conversarmos com a Dra. Luciane Deboni, coordenadora do setor de transplantes da Fundação Pró-Rim.
Quais as principais mudanças e dificuldades no tratamento dos pacientes renais e transplantados após o início da pandemia?
Dra. Luciane – Foram as medidas de precaução, principalmente de lavagem das mãos, o que já acontecia antes, mas agora com maior rigor. Também nos EPIs (equipamentos de proteção individual) e o controle da temperatura. Quando os pacientes chegam para a hemodiálise ou para as consultas do transplante, é verificada a temperatura corporal e presença de quaisquer sintomas gripais. Aqueles que apresentam alguma alteração são encaminhados imediatamente para avaliação médica. Na verdade, foram intensificados todos os cuidados que já existiam, de prevenção de infecção, de uma forma mais intensa.
Como os pacientes reagiram ao perigo de se contaminar com o coronavírus?
Dra. Luciane – São muitas as preocupações que incluem o transporte, que é fornecido pela Prefeitura, no deslocamento da casa do paciente à Pró-Rim e depois no retorno, ou por algum contato que o paciente possa ter na rua. Obviamente também na diálise. Como são pacientes que ficam no mesmo ambiente por um longo período, apesar do distanciamento, há o risco de ter alguma contaminação. Por isso, todo o paciente em hemodiálise, que tenha qualquer suspeita, é isolado até que seja confirmada ou descartada a contaminação pelo coronavírus.
Os pacientes renais continuam tratando as suas doenças pré-estabelecidas com o mesmo interesse de antes?
Dra. Luciane – Os pacientes não podem deixar de tratar todas as suas doenças como diabetes e hipertensão. Os transplantados continuam usando os imunossupressores. Estes tratamentos não podem, de forma alguma, serem negligenciados pelos pacientes. Essas doenças crônicas são inclusive fatores de risco para uma pior evolução. Então, quanto mais descompensado estiver o diabético ou o hipertenso, mais maltratado vai ficar. Neste caso, maior é o risco de ele evoluir de uma maneira desfavorável, se contrair o coronavírus.
Há muita desinformação envolvendo medicamentos e que confundem principalmente hipertensos. Qual a recomendação?
Dra. Luciane – Algumas pessoas mal informadas podem estar suspendendo suas medicações porque existem manifestações infundadas sugerindo que quem usa captopril ou losartan, deveria parar com essas medicações para a hipertensão. Isso não é verdade. São medicações que devem ser continuadas. Não há nenhum dado científico que comprove a necessidade da suspensão desses medicamentos.
Os transplantados comparecem às consultas com a mesma regularidade e forma que faziam antes dá pandemia ou houve alterações para não expô-los ao risco de contágio?
Dra. Luciane – Os transplantados continuam tendo o acompanhamento com a mesma regularidade. Porém, há pacientes que estão estáveis e conseguem fazer e mandar os exames por email ou whatsapp com estes, na medida do possível, se faz teleconsulta conversando com o paciente, revisando a medicação, liberando as receitas para tentar diminuir a vinda dele até o centro de transplante, onde tem uma movimentação maior de pessoas. Mas o tratamento não muda nada. Os pacientes continuam tomando todas as medicações e o controle que é feito por parte da equipe, continua sendo o mesmo. Só algumas consultas podem ser realizadas à distância e outras feitas presencialmente, especialmente nos pacientes com transplantes mais recentes, com menos de seis meses, que têm que continuar vindo ao centro de transplante.
Que mudanças os médicos perceberam no comportamento dos pacientes após a pandemia, em relação ao tratamento habitual? Quais as principais orientações a eles além do uso de máscaras e higienização das mãos?
Dra. Luciane – Inicialmente alguns pacientes, de modo geral, não acreditavam muito na gravidade da infecção do vírus. Progressivamente, à medida que novos casos foram acontecendo, as pessoas passaram a ter um controle maior. Hoje estão com um grau de conscientização mais amplo, aderindo ao distanciamento social, usando máscaras e fazendo a higienização das mãos de forma mais intensa e regular. A preocupação é que com o tempo esses cuidados possam ser reduzidos, já que se nota que as pessoas vão cansando. Mas isso não pode acontecer, porque justamente com o tempo, mais pessoas vão se contaminar e o risco de pegar a doença vai ser maior. Portanto, todos os cuidados devem ser contínuos e de forma até mais intensa.
Principais orientações aos pacientes transplantados
Considerando como medidas de proteção dos pacientes transplantados, recomenda-se que todos eles evitem viagens e aglomerações em eventos socioculturais, manter hábito frequente de higienização das mãos, evitar contatos físicos desnecessários como aperto de mão, beijos e abraços, uso de máscaras simples, cobrindo nariz e boca, em ambientes sociais ou hospitalares.
Caso o paciente transplantado apresente febre igual ou superior a 37,8°C, deve ligar para a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima e solicitar informações de como proceder. Se houver febre igual ou superior a 37,8°C, falta de ar e contato com paciente transplantado suspeito ou confirmado para COVID-19, procurar a unidade de referência de sua cidade, ex.: UPA ou PA.
Os pacientes transplantados devem ficar em casa em ambientes arejados com portas e janelas abertas. Em casa, devem evitar contato próximo com familiares (beijo, abraço, toque e relação sexual) que saem de casa. Tomar cuidado com crianças que frequentam escolas e creches e podem ser transmissores do vírus sem que apresentem sintomas.
É proibido compartilhar objetos como talheres, copos, garrafas de água, chimarrão e tereré. Recomenda-se o aumento da frequência de limpeza dos ambientes e superfícies de maior contato das mãos, como corrimões, maçanetas, interruptores, etc.