
No ano passado, Marilda Pacheco e a filha Bárbara, de 16 anos, preparavam-se para comemorar o Dia das Mães mais marcante na vida das duas. Acordaram cedo na expectativa do almoço especial com a família. O primeiro beijo das duas, naquela manhã, ainda na cama, foi regado com lágrimas. Para entender tanta emoção, vamos voltar seis meses no tempo, a partir daquele dia, quando Bárbara iniciou tratamento por hemodiálise, devido à perda das funções renais.
“O mundo desabou na minha cabeça e não conseguia entender a razão de ter acontecido isso comigo. Fiquei revoltada com tanta limitação e não achava graça em nada. Não podia comer a comida que eu gosto e nem beber água. Até sair com as amigas era difícil. Viajar, então, nem pensar. O meu universo ficou reduzido entre recomendações rígidas e um vocabulário médico diferente do meu cotidiano juvenil. Deduzi que a vida tinha acabado para mim. Foi um período de muita angústia”, desabafa Bárbara.
“Sofri muito com as limitações dela. É muito triste ver a filha da gente, uma menina saudável, de repente, presa em uma máquina para sobreviver e sem aproveitar plenamente esta fase linda da vida. A minha realidade também foi completamente alterada. Fiquei desesperada ao vê-la naquele estado sem que eu pudesse fazer alguma coisa para aliviá-la. Todos os dias chorava escondida para não deixá-la mais triste”, revela Marilda.
Mas, vamos retomar nossa história a partir daquela manhã de domingo. O motivo de tanta emoção? É que Bárbara não precisaria mais da máquina de hemodiálise para viver. Ela havia recebido um rim saudável, doado pela própria mãe. Quer dizer, o dia era das mães, mas quem ganhou o presente foi a filha. E que presente!
No entanto, o almoço tão esperado não aconteceu. Horas depois de acordar, devido a uma infecção urinária, a garota, que mora em Tubarão (SC), teve de ser levada às pressas para Joinville (SC), cidade onde fez o transplante. O que era para ser um domingo de festa e gratidão transformou-se em grande preocupação com a possível rejeição do órgão. Felizmente nada disso aconteceu. Depois de 15 dias hospitalizada e tratada pela equipe da Fundação Pró-Rim ela ficou completamente curada da infecção e voltou para as suas atividades.
Atualizando a nossa história para os dias de hoje: Bárbara está cursando a Faculdade de Engenharia, viaja muito, frequenta barzinhos, balada, praia e shows, na companhia dos amigos, assim como a maioria dos jovens aos 18 anos. “Consegui recuperar a minha vida como era antes da doença e agora estou muito feliz e motivada para viver. Aliás, nasci e renasci graças à minha mãe, à generosidade dela e ao amor incondicional que sempre me dedicou. Ela deu-me a vida em dobro. Não tenho palavras para agradecer. Acho que quando abraçá-la, no seu dia, não vou conseguir falar nada. Nem precisa né?”, suspira a garota, sorrindo, mas com rosto molhado pelas lágrimas.
Agora, no Dia das Mães deste ano, Marilda e Bárbara sentem que não haverá nenhum imprevisto para atrapalhar a comemoração. O almoço está programado e o presente já foi comprado. “O quadro clínico da minha filha é muito bom e ela está num astral excelente. Agradeço à equipe da Pró-Rim. Não me sinto supermãe. Tudo o que fiz foi por amor, por instinto de defender a cria. Tenho certeza que qualquer mãe, no meu lugar, faria a mesma coisa. Tudo isso que a gente passou me transformou numa pessoa melhor e aproximou-me mais da Bárbara. Se a gente já era unida, imagine agora, que ela carrega parte de mim dentro dela. Sou a mãe mais feliz do mundo“, comemora Marilda, que não consegue mais falar, tomada pela emoção.