
Adele Bolomini se lembra da infância com saudades. Ela, os oito irmãos e os pais viviam em um sítio em Jaraguá do Sul – Santa Catarina. Tinham uma vida simples, mas muito feliz. A educação recebida foi rígida, mas abria espaço para brincadeiras: “saudáveis”, destaca, como pega-pega e esconde-esconde. O pão caseirinho e as fornadas de cucas feitas pela mãe Edith Bolomini também estão guardadas num lugar especial da memória.
Com 15 anos a jovem teve seu primeiro filho, Jonas Gabriel, de cesariana. A cirurgia foi necessária porque ela já apresentava insuficiência renal, mas só dois anos mais tarde descobriu a doença. Começou assim a dura rotina de fazer o tratamento de diálise em Joinville. Na época tudo era mais difícil e a situação financeira da família também.
Para piorar a menina não teve o apoio do marido e a “mãezona” Edith foi quem cuidou da filha: “Ela é minha filha e eu cuidarei”. E foi assim por dois anos. O médico nefrologista José Aluísio Vieira, o Dr. Xuxo, foi quem a atendeu desde o começo e recorda que na época o deslocamento era caro. Para ajudar a família, Adele só voltava para a casa em alguns fins de semana. Sua vida era praticamente dentro do hospital São José e em tratamento, mas sempre com a presença da mãe que, como recorda, às vezes não tinha dinheiro nem para tomar um café.
O amor de mãe sempre fala mais alto
Com 28 quilos Adele estava se entregando cada vez mais para a doença. Não havia mais saída a não ser o transplante. O tratamento era inédito no estado. Os recursos rudimentares, mas a missão assumida pelo Dr. Xuxo de ‘Salvar Vidas’ falou mais alto naquele momento. “Eu estava no corredor do hospital com dona Edith e ele me perguntou o que poderia fazer para salvar a filha. Respondi de forma simples e direta que tinha uma única saída, que era fazer um corte ao lado de sua barriga, tirar um de seus seu rins e colocar na filha. Ela disse: ‘Quando faremos isso? ’. Esse foi um dos momentos mais emocionantes da minha carreira profissional”, conta.
Com a decisão de fazer o transplante a família encontrou mais um obstáculo que era pagar o procedimento. E mais uma vez pode encontrar no apoio do Dr. Xuxo uma saída vinda de Eggon João da Silva, diretor da Weg. Como o marido de Adele trabalhava na empresa foi mais fácil chegar ao proprietário e conseguir o dinheiro para pagar o transplante. Um ato de generosidade exemplar e que salvou a vida de Adele.
Foram 8 horas de cirurgia e o primeiro transplante de rim com doador vivo no estado foi realizado com sucesso. Mãe e filha estavam bem e se encontraram algumas horas depois da cirurgia. “Era um sentimento forte e minha mãe chorava muito quando me viu bem”, conta Adele com lágrimas nos olhos.
No dia 31 de dezembro de 1979 Adele voltou para casa e pode começar realmente um novo ano em sua vida.
36 anos de tratamento e muita história para contar
A história da vida de Adele se assemelha a muitas, com baixos e altos como ela mesmo defini. Depois do transplante muita coisa aconteceu. Adele teve mais uma filha, a Gisele, quatro anos depois. Foi embora para Timbó e casou-se pela segunda vez. Como não poderia engravidar, adotou o Paolo em 2000. No mesmo ano sua mãe Edith faleceu.
Em 2004 Adele teve que entrar em hemodiálise novamente, devido ao descuido que teve no tratamento pós-transplante. “Minha mãe sempre falava para eu cuidar desse rim porque ela não poderia me doar outro, mas eu não ouvi e precisei de um novo transplante”.
Uma segunda chance foi dada a Adele, desta vez vinda de um doador cadáver. Mesmo assim Adele não se esquece da atitude de sua mãe Edith, que prolongou sua vida por mais 25 anos.
Hoje, com o mesmo olhar da menina que encarou um difícil destino Adele sonha em ter sua casa própria e em ver seu filho Paolo e seus cinco netos crescerem com saúde.
Ela e a irmã mais velha relembram a culinária de sua mãe fazendo pães, cucas e bolachas caseiras e se orgulham por serem filhas de uma mulher de fibra, solidária, humana e acima de tudo MÃE. Uma mãe pioneira no estado e um exemplo de mulher. Atitudes como a de Edith mudam destinos, transformam vidas e trazem novas oportunidades.