
Em 1982 José Gomes Santana descobriu que os seus rins estavam comprometidos. Nem podia imaginar o que isso poderia representar na sua vida. Começou com as sessões de hemodiálise, duração de quatro horas, três vezes por semana. Impossibilitado de trabalhar foi obrigado a recorrer a uma minguada aposentadoria precoce.
Certo dia, ao chegar em casa, ficou desesperado ao saber que a mulher havia abandonado a família, deixando sob os seus cuidados os dois filhos pequenos do casal. “Aquele dia foi muito pesado”, lembra Santana, passando as mãos pelo rosto. “As contas estavam todas atrasadas: aluguel, luz e água. Não havia gás de cozinha e nem dinheiro para comprar ao menos um pão”, desabafa, acrescentando que, para piorar, as crianças choravam de fome.
Foi neste momento que ele pensou rapidamente em suicídio. Mudou de idéia e decidiu viver. Aí, entrou em cena o espírito solidário da Pró-Rim. Primeiro recebeu assistência psicológica. Santana entendeu que era preciso aprender a lidar com as suas limitações. Depois, o encaminhamento profissional para manter contatos por telefone na busca de recursos para tratar pacientes que como ele não podiam pagar pelo tratamento. Com a vida normalizada, auto-estima elevada, Santana tentou o transplante, mas houve rejeição. Então, voltou para a máquina de hemodiálise, que considera a sua maior amiga.
Quando algum paciente reluta em iniciar o tratamento de hemodiálise, Santana entra em ação, mostrando o seu exemplo. Convence qualquer um. “Se não fosse essa máquina abençoada eu já teria morrido, não teria visto os meus filhos crescerem e não seria esta pessoa realizada que coloca a solidariedade acima de todas as coisas”.
Alguns anos depois, descobriu que a sua ex-mulher havia sido abandonada pelo atual marido. Ela ficou com três filhos pequenos, sem emprego e passando muitas dificuldades. Sensibilizado com a situação, Santana deixou de lado qualquer mágoa do passado e garantiu uma cesta básica todo mês, única fonte de alimentação para a mulher e as crianças.
“O importante é manter sempre acesa a capacidade de perdoar, porque isso só faz bem para a gente”, diz Santana, com a certeza de ter descoberto o tão procurado sentido da vida.
Na vida, ele queria apenas ver a filha comemorar os 15 anos. Depois, emocionou-se no casamento da mesma filha. Hoje, a família aumentou com a chegada do segundo neto. “Não faço mais planos. Apenas vivo cada dia. A doença me fez entender o que é importante na vida”, atesta José Gomes Santana.
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