
Mais uma manhã de terça feira em Joinville. São sete e meia e chove muito, coisa bastante comum na cidade dos príncipes. No terminal do centro, o fluxo de ônibus e de pessoas é enorme. Enquanto alguns se acotovelam para tentar encontrar o melhor lugar no veículo recém-chegado, outros navegam em seus celulares enquanto aguardam o transporte. Não tem outro jeito. Cedo ou tarde o ônibus sempre vem.
Mas nem sempre o órgão chega para os pacientes que precisam de um transplante, e sua espera é muito mais angustiante. Não é o emprego ou a faculdade que estão em jogo, mas a vida. Dessa espera dependem os sonhos da mãe que quer poder educar os filhos, do jovem que pretende estudar para tentar ser alguém na vida, do homem que deseja simplesmente dar a família o sustento e a dignidade.
Campanha “Você tem pressa?” visa conscientizar sobre doação de órgãos
Pensando nisso, a Fundação Pró-Rim lançou a campanha, “Você tem pressa?”, que visa esclarecer as pessoas sobre esse tema tão importante. No terminal de ônibus, enquanto as pessoas esperavam seus coletivos, funcionários da Pró-Rim fizeram uma panfletagem, e conversavam com as pessoas ajudando a entender melhor o problema. Aproximadamente 900 panfletos foram entregues, mas a sensação de todos é que ainda falta muito para que se se consiga atender a uma demanda que é enorme.
Dorival Dionísio, 56 anos, está desempregado e foi um dos abordados pela equipe da Pró-Rim. Ele vive a ansiedade da procura por trabalho e se apronta para a entrevista que pode garantir o alimento para a sua família. E se o ônibus atrasar? “Se eu tivesse empregado com certeza o chefe ia buzinar no meu ouvido.” Se a sua espera parece longa, quem dirá a de um paciente que espera por um órgão? Dorival se comove e pergunta: “E se fosse uma criança esperando?”
Gerente de vendas, Lizete Perondi tem 50 anos e perdeu um amigo que esperava pelo transplante. Irmã do secretário de saúde de Chapecó, ela conhece bem a dificuldade conseguir doadores. Juli Stramnesmann também conhece esse problema. Ela tem 18 anos e é técnica de enfermagem. A luta para conservar a vida faz parte do seu dia a dia, o que a ajudou a ser mais sensível quanto a conscientização sobre a doação de órgãos. Apesar de conhecerem de modo mais direto sobre essa realidade, ambas expressam ter dúvidas sobre como devem proceder caso desejem ser doadoras.
No Brasil, mais de 24 mil pessoas esperam por um rim, 355 em Santa Catarina. Em 2013, a Fundação Pro-Rim foi responsável por 106 transplantes, em 2014 já foram 73 os realizados. Para os que aguardam a chegada do órgão, muitas vezes a hemodiálise é a única saída. São mais de 900 pessoas que atualmente fazem esse tratamento nas unidades da instituição. Mais do que estatística, são crianças, jovens, pais e mães de família cujo desejo é simplesmente poder seguir adiante. Saúde e qualidade de vida são para eles mais do que discursos, mas temas que tocam diretamente a eles mesmos.
Por: Norton Ortiz