Pesquisadores norte-americanos realizam primeiro transplante de rim de porco em humano sem rejeição imediata do órgão.
Já há alguns anos o xenotransplante, denominação para o transplante de órgãos entre diferentes espécies, é considerado uma grande aposta para desafogar a lista de espera por transplantes renais. No entanto, alguns desafios relacionados à rejeição dos órgãos pelos receptores colocavam em xeque a viabilidade dessa alternativa. Inclusive este procedimento foi um dos citados pelo médico nefrologista da Pró-Rim, Dr. Franco Kruger no II Webinar Setembro Verde 2021.
A experiência dos cirurgiões norte-americanos ganhou repercussão pois, pela primeira vez, um rim de um porco foi transplantado em um humano sem provocar rejeição imediata pelo sistema imunológico do paciente. Mas, como isso foi possível?
Para o procedimento realizado no Centro Langone Health, da Universidade de Nova York (NYU), houve a manipulação genética de um suíno cujos genes foram modificados para que seus tecidos não tivessem uma molécula que provoca rejeição instantânea. A Dra. Luciane Deboni, coordenadora do setor de Transplantes renais da Pró-Rim, explica que “este é um porco transgênico. Com a modificação da proteína na superfície da célula, faz-se com que não haja a rejeição imediata contra o enxerto por parte do receptor. O que normalmente acontecia em outros testes em primatas”.
A receptora do transplante foi uma paciente com morte encefálica com sinais de disfunção renal. A família consentiu a realização do experimento antes que ela fosse retirada dos equipamentos de suporte à vida. Por três dias, o rim suíno foi transplantado às suas artérias e mantido fora de seu corpo, permitindo o monitoramento pelos pesquisadores.
Segundo o médico transplantador Robert Montgomerry, que liderou o estudo, as análises da função do rim transplantado “pareciam bem normais […] melhores do que esperávamos”. Para a Dra. Luciane Deboni, trata-se de um fato “extremamente importante para que nós possamos evoluir e entender como esse órgão modificado geneticamente nos porcos possa ser tolerado, ou seja, aceito por um ser humano dentro de um contexto do transplante”. E complementa, “com o tempo iremos aprender qual a necessidade de imunossupressão, qual o tipo de imunossupressor melhor. Sem dúvida, é um grande passo dado na construção deste conhecimento para que o xenotransplante possa evoluir e tornar-se uma realidade num futuro próximo”.
Fonte da matéria: Reuters (NY) | Nancy Lapid