
Aos sete anos de idade, em 1999, Filipe Soethe acabou perdendo totalmente a função renal e passou a submeter-se às sessões de hemodiálise. Levava uma vida diferente das crianças da sua idade. Não podia correr, andar de bicicleta e as brincadeiras eram muito limitadas. Além disso, a comida tinha de ser quase sem sal e muito restritiva, pois ele sofria de pressão alta. Estudava em casa. A mãe era a sua professora particular.
Neste período uma das poucas atividades físicas permitidas foi tocar piano. Nascia a paixão pela música. Mas a doença foi se agravando. Precisava urgentemente de um transplante de rim. O pai do garoto, o técnico de enfermagem Valério Soethe, desesperado, sabia muito bem que o tratamento por longo tempo na hemodiálise poderia comprometer até o crescimento do menino.
Fez os exames de compatibilidade e decidiu doar um rim para salvar a vida do filho. “Eu entendi que se não tomasse a iniciativa o meu filho iria morrer”. Dois anos depois, com a vida normalizada, Filipe venceu o concurso de redação “Doe Órgãos – Doe Vida”, promovido pela Secretaria Municipal de Educação de Joinville e Fundação Pró-Rim. Entre mais de 150 mil participantes, a história de Filipe foi a que mais comoveu. “Quem doa órgãos faz alguém sorrir com este gesto de amor”, definiu o menino no seu texto.
Filipe hoje está com 23 anos. Formou-se em administração de empresas e é músico profissional. Na colação de grau, o abraço emocionado entre os dois, dispensou qualquer palavra. Pai e filho estão sempre juntos. Gostam de pescar, conversar e viajar, valorizando todos os momentos da vida. Sempre foram muito ligados um ao outro, mas depois do transplante, o amor e a amizade ganharam dimensão maior. “Amadureci muito e sinto-me uma pessoa melhor ao vivenciar esta história com o meu filho”, diz Valério, que acompanha Filipe em quase todos os eventos em que ele se apresenta.
“Sou um privilegiado em tê-lo como pai e carrego dentro de mim um pedaço dele, que é o maior troféu que conquistei em toda a minha vida”, enfatiza Filipe.
Neste Dia dos Pais, mais uma vez, com a família reunida, pai e filho vão trocar um longo e apertado abraço como a transfundir sentimentos de gratidão, amor e solidariedade.