Com o coração cheio de aventura, a paciente Tatiana Bueno Franco, de 38 anos dá show no quesito aproveitar a vida. Desde que conheceu o motociclismo tudo se transformou numa rota sem fim, onde cada parada é apenas para recarregar energias e continuar a viagem. Descobriu a doença renal em 2000 com o diagnóstico de Glomeronefrite*. Logo teve que iniciar as sessões de hemodiálise.
“No começo achei que seria uma sentença de morte, mas com muita informação e força de vontade percebi tratar-se de apenas um obstáculo, mas que eu iria vencer”. E assim foi. Em oito meses recebeu um rim da tia. “Permaneci com ele por quase 14 anos. Foi um tempo muito bom, mas engana-se quem pensa que isso significa a cura. O transplante é apenas mais uma forma de tratamento que, no entanto, permite mais liberdade ao paciente”, explica.
Neste tempo, Tati, como prefere ser chamada, morava em Pomerode (SC) e sua família distante 136 km, em Itaiópolis, também em Santa Catarina. “Na época eu tinha uma moto ‘Bis’ para andar na cidade, mas para viagem ela não agüentava. Foi quando comprei outra um pouco maior e fui ganhando gosto pelo motociclismo”, conta.
Foi nesta época que Tati perdeu o rim por rejeição, algo natural. Todos os pacientes são alertados em relação a isso. Uns demoram mais, outros menos. O dela durou a média que varia de 14 a 18 anos. “Tive que voltar à hemodiálise, mas isso não me abalou. A minha vida continuou normal”.
A partir daí ela começou a se relacionar com outras pessoas que compartilhavam da mesma paixão e entre um encontro e outro de motociclistas Tati conheceu seu futuro namorado, o companheiro que iria embarcar nessa incrível aventura. “Começamos a namorar e logo programamos nossa primeira grande viagem até o Chuí. Na verdade a programação começou com as clínicas de hemodiálise que consegui agendar sessão, depois traçamos a rota da viagem”.
Tatiana conta que deu tudo certo com a viagem que ela planejou com seis meses de antecedência, pois dependia de vaga nas clínicas de hemodiálise para realizar o tratamento durante todo o trajeto. “O sistema possui falhas. Em cidades pequenas não encontrava tratamento. Então, precisei reprogramar a viagem e passar por grandes centros, pois lá é que estão as clínicas de diálise. Mesmo assim, conseguir vaga foi um desafio só possível de ultrapassar com a ajuda dos profissionais da Pró-Rim”.
Referência em viagens!
Ao iniciar essa aventura, Tati procurou referências na internet na esperança de encontrar outros pacientes que tenham feito viagens semelhantes. Mas, para sua surpresa, não encontrou nenhum caso. Foi quando, incentivada pelo namorado e amigos, resolveu escrever seu próprio blog relatando toda a viagem. “Diálise – uma viagem para a vida” foi seu diário de bordo durante os 15 dias de aventura. Lá, ela retrata todo sentimento em relação à viagem, as dificuldades sobre a diálise e claro, todos os lugares lindos que conheceu.
Confira um trecho de suas postagens:
“O primeiro dia de viagem foi muito bom, as forças do universo estavam ao nosso favor, clima excelente e pouco movimento. Nos primeiros 100 km ainda estava com o coração acelerado, pois o momento tão esperado e planejado chegou. Viajar é muito bom, mas de moto é maravilhoso, pois interagimos mais com o meio, usamos muito todos os sentidos e aproveitamos mais o calor, o frio, o cheiro da natureza. Quando a viagem é longa, tenho a oportunidade de ficar alguns momentos a sós, eu e os meus pensamentos. Adoro este momento e acredito que neste instante faço parte do universo, sem uma avaliação do que tenho ou posso oferecer.
Chegando em Tramandaí (RS), fomos procurar um lugar para comer. O corpo estava cansado, mas a adrenalina e alegria faziam efeito inverso. Na manhã seguinte seguimos com destino ao Chuí, viagem tranquila, mas com atenção redobrada, rodovia com trechos muito ruins. Chegamos em São José do Norte na parte de tarde e depois passamos de balsa para a cidade de Rio Grande.
Agora vamos procurar onde fica a clínica de diálise e confirmar o horário. Clinica simples com muitos pacientes onde a sua maioria vive para a doença. Isso me entristece! Como já mencionei, temos que nos adaptar às limitações e viver da melhor maneira dentro dela. Se pararmos pra pensar saberemos direitinho o que fazer e por onde seguir, para que isso aconteça.
Se existe uma coisa que Tati não aceita é viver pela doença, como ela mesma relata no blog e pessoalmente. As pessoas precisam se adaptar com essa limitação, mas não fazer dela um obstáculo impossível. Todos podem buscar um hobby, um lazer, algo que as faça bem quando saem da diálise. E quando lhe perguntam sobre sua disposição, ela é clara e objetiva: “eu me cuido, tomo meus remédios, sigo as orientações médicas, por isso sempre me sinto determinada!”.