Pesquisas têm mostrado que uma boa hidratação no dia-a-dia pode diminuir o risco de diversos problemas de saúde, incluindo os renais. Na prática, se manter bem hidratado significa tomar água suficiente durante o dia, e, consequentemente, esvaziar a bexiga sempre que necessário. Isso pode não ser um problema para as pessoas que passam a maior parte do tempo em casa, mas pode ser um tanto complicado para muitos que trabalham em atividades e/ou locais que tornam estas simples necessidades fisiológicas desafiadoras.
Assim, três perguntas podem nortear uma ligeira avaliação sobre a potencial influência de fatores ocupacionais na hidratação:
Durante a jornada de trabalho:
1) O acesso à água potável ou tempo para beber a quantidade desejada de água são restritos na maior parte do tempo?
2) O trabalho é realizado em um ambiente quente?
3) O acesso a banheiros é restrito na maior parte do tempo?
Se a resposta a qualquer uma dessas perguntas for afirmativa, trabalhadores podem estar expostos cronicamente a condições que dificultam a hidratação adequada e, por isso, estão mais suscetíveis às suas consequências indesejáveis.
Em relação à saúde dos rins, a repercussão pode variar da presença de sintoma passageiro, até situações mais relevantes como o desenvolvimento de cálculos (pedras) e infecções. Ainda mais grave, na América Central, uma epidemia de doença renal crônica em cortadores de cana tem chamado a atenção da comunidade científica de todo o mundo. Apesar da causa não ter sido completamente elucidada, pesquisadores acreditam que a desidratação recorrente devido à exposição contínua às temperaturas muito elevadas, associada ao esforço físico extenuante e a falta de hidratação adequada estão envolvidos nesta epidemia que já matou dezenas de milhares de trabalhadores na região, sendo em sua maioria jovens chefes de família.
Estes achados nos motivaram a pesquisar o estado de hidratação e a saúde renal de trabalhadores expostos a elevadas temperaturas de uma indústria metalúrgica de Joinville. Incluímos também um grupo controle com trabalhadores da mesma indústria que não eram expostos ao calor dor fornos de fundição. Dos 31 homens avaliados, felizmente, todos estavam com a função renal preservada. Quando avaliamos marcadores de hidratação, a grande maioria relatou pouca ou nenhuma sede. Porém, ao mesmo tempo,ambos os grupos apresentavam elevadas concentrações (osmolaridade) sanguíneas e urinárias,tanto antes quanto após a jornada de trabalho, indicando a necessidade de todos aumentarem o consumo hídrico durante o tempo que permanecem trabalhando.
Além das ocupações expostas a elevadas temperaturas, há também pesquisas mostrando uma maior tendência a problemas urinários e renais em ocupações como motoristas, professores, enfermeiros. As mulheres parecem particularmente mais susceptíveis que os homens. Muitas trabalhadoras acabam diminuindo o consumo de líquidos quando não se sentem confortáveis em usar os banheiros disponíveis.
O quadro abaixo contempla as condições e exposições ocupacionais associadas a distúrbios renais e as possíveis medidas preventivas:
Condições e exposições ocupacionais |
Problemas renais potenciais |
Medidas preventivas |
– Falta de água potável facilmente acessível
– Falta de acesso ou de higiene dos banheiros – Altas temperaturas nos locais de trabalho – Falta de intervalos – Atividade física extenuante – EPI de proteção semipermeável ou impermeável |
– Pedras nos rins
– Sintomas do trato urinário – Infecção do trato urinário – Doença renal crônica |
– Educação sobre importância da boa hidratação e auto monitoramento
– Acesso facilitado à água potável – Instalações sanitárias acessíveis e adequadas – Atenção às normas de segurança de exposição ao calor |
Mas, quanto de água devemos tomar diariamente para nos mantermos bem hidratados? Para adultos, os guias de nutrição recomendam em torno de 2 a 2,5 litros para mulheres e de 3 a 3,5 litros para os homens. Porém, há vários fatores interferem na hidratação como as características pessoais incluindo peso e metabolismo, a dieta (principalmente a quantidade de sal consumida) e também as ambientais como o clima. Então, além de observar a quantidade de líquidos consumidos, prestar atenção na nossa sede,a quantidade de vezes que urinamos durante o dia e também a cor da nossa urina pode auxiliar no auto monitoramento do estado de hidratação.
Na prática:
-Tomar água suficiente para evitar a sensação de sede (quando ela aparece, é sinal de pouca hidratação);
– Urinar ao menos seis vezes ao dia;
– Coloração da urina deve ser bem clara na maioria das vezes.
Assim, empregadores podem e devem promover um ambiente “favorável à hidratação” para seus colaboradores enquanto que os trabalhadores autônomos precisam se preocupar com seus próprios hábitos. Além de promover a saúde em geral, hidratação adequada no trabalho pode melhorara qualidade de vida, e ainda propiciar impactos positivos no desempenho cognitivo, produtividade e redução de custos.
Para saber mais sobre o assunto, acesse os artigos abaixo:
https://www.degruyter.com/document/doi/10.1515/reveh-2019-0014/html
https://www.karger.com/Article/Abstract/500373
Por Dra. Fabiana Baggio Nerbass
Nutricionista e Pesquisadora da Fundação Pró-Rim