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A Sociedade Catarinense de Nefrologia/SCN e a Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante/ABCDT publicam hoje (1º/09/2016) no jornal A Notícia, página 19, uma nota alertando à população sobre as conseqüências que poderão advir com a falta de reajustes por parte do SUS nos serviços de hemodiálise prestados por clínicas privadas e/ou filantrópicas.
Segundo a nota, a imprensa de todo o País noticia com freqüência fatos desesperadores: pacientes em fila de espera, clínicas fechando e pessoas morrendo por falta de tratamento. A Fundação Pró-Rim também sofre financeiramente com este descaso e se posiciona ao lado dos pacientes, as maiores vítimas. Por isso, apóia a manifestação destas instituições representativas, acreditando em uma solução rápida e duradoura.
Abaixo a nota que descreve com fidelidade a dura realidade.
CAOS NA HEMODIÁLISE
A Sociedade Catarinense de Nefrologia, a qual representa os médicos nefrologistas e as clínicas de hemodiálise em Santa Catarina, vem informar à comunidade que estes serviços custeados pelo Sistema Único de Saúde/SUS, estão seriamente comprometidos e atravessam o pior cenário econômico já vivido desde a implantação do SUS.
O repasse de hoje é de R$ 179,00 por sessão quando deveria ser de R$ 257,00, constituindo uma defasagem de R$78.00. Como cada paciente realiza 13 sessões mensais de hemodiálise o prejuízo gerado é de aproximadamente R$ 1.000,00 por pessoa. Além disso, o SUS remunera uma consulta médica no valor aviltante de irrisórios R$10,00.
Na tentativa desesperada de corrigir esta situação, a Sociedade Brasileira de Nefrologia preparou um dossiê com uma planilha de custos mostrando a condição insustentável para continuar prestando este serviço à sociedade. O conteúdo relata detalhadamente as enormes dificuldades pelo que vem passando as instituições e as conseqüências produzidas pela discrepância econômico/financeira de nossas contas.
Entre os principais problemas originados por essa incompatibilidade contábil está o inevitável endividamento das clínicas junto aos bancos. Conseqüentemente isso implica em atrasos de pagamentos junto aos fornecedores, o que proporciona pedidos de reajuste e até a interrupção da entrega de materiais, medicamentos e insumos essências para o a prestação do serviço. Outro ponto destacado pelo dossiê é quanto aos reajustes salariais de todos os colaboradores envolvidos nos procedimentos realizados. Somente este ano o aumento foi acima de 10% e, nos últimos três anos, já acumula mais de 30% sem que o SUS (Sistema Único de Saúde) repasse um centavo de correção. Além disso, é indispensável frisar que a inflação na área da saúde é historicamente maior que a oficial.
Em março de 2016, o documento foi levado às autoridades competentes, em todas as esferas do poder público, municipal, estadual e federal, os quais reconheceram a defasagem e a fragilidade que vive o serviço de diálise. Porém, nem uma solução foi proposta, tentada ou sugerida e a resposta que obtivemos foi e tem sido sempre a mesma: “não temos mais recursos” e o jogo de empurra-empurra não tem fim!
O fato é que o poder público está transferindo a responsabilidade da vida dos pacientes do SUS para as clínicas privadas e filantrópicas sem dar a mínima condição de garantir qualidade e segurança para essas pessoas. Não podemos ter o nosso papel invertido, pois somos prestadores de serviço, responsáveis pelo tratamento dos pacientes e não instituições financeiras que subsidiam custos dos quais o governo deveria ser o responsável.
Diante deste quadro, a própria imprensa de um modo geral já vem noticiando o que está ocorrendo em todo o Brasil: pacientes em fila de espera, clínicas fechando e doentes morrendo por falta de tratamento. A pergunta é: vamos cruzar os braços e ver isso acontecer nas nossas cidades e no nosso Estado?
No dia 13 de agosto de 2016, em uma reunião com a presença das clínicas de hemodiálise, foi decidido que, no prazo de 30 dias vários serviços não terão mais condições de receber novos pacientes. Alguns tratamentos como a diálise peritoneal já estão comprometidos, pois não serão mais fornecidos pelos fabricantes os materiais necessários para a prestação do serviço a novos pacientes. É uma questão crítica que inviabiliza completamente este tipo de terapia, indicada para pacientes que na sua maioria são crianças, idosos e os que não têm acesso vascular para hemodiálise, ou seja, justamente os que mais sofrem. E é importante ressaltar que pacientes renais, uma vez diagnosticados, e que necessitam de diálise para sua sobrevivência devem realizar com urgência e emergência o tratamento, pois, caso contrário, correm Risco de Morte.
Finalmente solicitamos às autoridades que coloquem a SAÚDE como real prioridade. Ela não pode ser tratada como assunto corriqueiro e ordinário, ou a mera parte de um discurso de ocasião, utilizado nas campanhas eleitorais e depois convenientemente esquecido. Sobretudo, o que estamos pedindo é o mínimo de sensibilidade para com essa população tão vulnerável e que depende do SUS para viver.
Por essa razão, é nosso dever alertar toda a sociedade sobre esta grave e dramática situação.
SOCIEDADE CATARINENSE DE NEFROLOGIA/SCN
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS CENTROS DE DIÁLISE E TRANSPLANTE/ABCDT
Confira o clipping da matéria aqui