Meu nome é Aline Cevei. Tenho 25 anos, moro em Lages (SC) e Sou secretária em uma clínica odontológica. Marcelo é funcionário público. Começamos a namorar no início de 2010. Na época, ele sofria de uma doença nos rins e fazia tratamento conservador, ou seja, com o uso de medicamentos, desde a adolescência.
A princípio, não imaginei que fosse uma doença grave, até vê-lo ligado três vezes por semana à máquina de hemodiálise, que substitui os rins para filtrar o sangue. Essa fase bastante desgastante começou em janeiro de 2014. Observei que a partir daí ele mudou o comportamento e mostrava-se constantemente irritado, cansado e triste.
Certo dia, ele desabafou e disse que estaria disposto a abrir mão do nosso relacionamento porque não seria justo eu passar o resto da vida a cuidar de um doente.
Ele explicou que iria confeccionar uma fístula no braço, um acesso utilizado para a realização do tratamento de hemodiálise. Segundo ele, o seu braço sofreria uma espécie de deformação. Além disso, viriam todas as etapas de complicações físicas e emocionais enfrentadas por um paciente renal. No fundo, ele estava pensando apenas em me preservar.
Confesso que perdi o chão. Não aceitei esta argumentação. Pelo contrário, agora, estava me sentindo mais determinada, muito mais forte. Deixei claro que iria passar o resto da minha vida com ele, na saúde e na doença. Quero envelhecer ao seu lado, o tempo todo, declarei, chorando. Eu não conseguiria ser feliz longe de quem amo. Será que alguém consegue? Pedi ao Marcelo que se colocasse no meu lugar. Não seria justo separar vidas predestinadas, tão afinadas, tão apaixonadas.
Após essa conversa, ele sentiu que o nosso amor era muito mais que apenas um namoro e nunca mais falou em separação. Mostrei que estávamos ligados para sempre, independente do que pudesse acontecer. Desde então, mesmo com algumas limitações, nos meses seguintes, ele voltou a ser o cara alegre e alto astral que eu conheci.
Em primeiro de setembro de 2014, exatamente às 13 horas e 35 minutos, uma ligação da equipe da Fundação Pró-Rim, de Joinville, reescreveria a nossa história. Um acidente, o diagnóstico de morte cerebral, uma família generosa e a compatibilidade numa série de exames, nos levaram às pressas até Joinville (SC). Marcelo foi transplantado e a recuperação ocorreu rápida e tranqüila. Quando passou o efeito da anestesia, ainda sonolento, ele me beijou e disse: “Aline, agora eu vou casar com você”.
E ele cumpriu a promessa. Em 11 de abril de 2015 realizamos o nosso sonho. A lua de mel foi uma temporada maravilhosa de 23 dias, em Gramado, na Serra Gaúcha. Agora, estamos vivendo os dias mais felizes das nossas vidas, curtindo a família, os amigos e trocando manifestações de carinho, assim como fazem os namorados que se amam. Cumplicidade é a palavra que define a nossa união.
Marcelo voltou a trabalhar. Agora, vamos realizar incontáveis projetos. O primeiro é a mudança nos próximos dias para a casa própria. Depois, viajar e recuperar um tempo que foi apenas adiado. Mas, o principal projeto de vida mesmo é a chegada dos filhos. Pensamos muito e decidimos que serão três. Afinal, casamento não é completo sem a bagunça das crianças.