O mundo desabou sobre mim no começo de 2010. A revelação da perda das funções renais caiu como uma sentença de morte. Aos 23 anos, vi todos os meus sonhos, planos e objetivos irem embora. Sabia que a minha vida ia mudar radicalmente. E o pior: ficar preso a uma máquina de hemodiálise, três vezes por semana e provavelmente para sempre.
Passado o susto inicial, decidi encarar a fera. Mudei-me de Alta Floresta para Sinop (MT), onde encontraria mais recursos médicos. Acertei na decisão. Lá, conheci Sandra Santana, uma técnica de enfermagem que desde o primeiro dia na hemodiálise me devolveu a vontade de viver. Transformou-se literalmente no meu anjo da guarda. Cuidava de mim durante o tratamento. Sentia-me seguro com ela por perto. Percebi que havia algo mais do que dedicação ao paciente. Ficamos apaixonados, começamos a namorar e em pouco tempo aconteceu o noivado.
Partiu de Sandra a maior declaração de amor que alguém pode fazer. Para acabar com o meu sofrimento ela decidiu doar um rim para o meu transplante. Fiquei emocionado com este gesto, mas tentei não me iludir dizendo que era muito difícil a compatibilidade de órgãos entre pessoas não aparentadas. No entanto, a minha guerreira estava intransigente. Afirmava que no seu coração havia esta certeza. Decretou acabar com o meu sofrimento, independente do risco com a própria saúde.
Sou técnico de informática e passo horas na frente do computador. Decidimos então pesquisar sobre a minha doença e como poderia obter a cura. Em julho, por vídeos no Youtube, descobri que em Joinville (SC) havia a Fundação Pró-Rim, uma instituição responsável por quase mil transplantes. Sandra ligou para uma tia que mora em Jaraguá do Sul (SC), cidade ao lado de Joinville. No mesmo dia estava com a passagem na mão e pronta para encarar uma viagem de ônibus de quase três mil quilômetros.
Em Santa Catarina constatou que tudo o que diziam da Fundação Pró-Rim na Internet era real. Segundo ela, a luz que faltava. Retornou ao Mato Grosso e montamos a “Operação Transplante”. Mais uma vez o meu anjo da guarda não titubeou. Pediu demissão da clinica onde trabalhava e conseguiu a minha transferência para fazer hemodiálise em Jaraguá do Sul.
Lá fomos nós para Santa Catarina. Em poucos dias veio o resultado de compatibilidade. O exame cross match, responsável por identificar a compatibilidade entre doador e receptor confirmou o que Sandra sempre acreditou. Ela seria a minha doadora.
O transplante ocorreu em 19 de novembro e foi um sucesso. O dia mais importante das nossas vidas. A minha guerreira e eu tivemos alta hospitalar e agora vamos concentrar a saúde e a energia para o casamento que deve acontecer no começo de 2011. Vamos ao encontro dos sonhos, planos e objetivos. Ano novo, rim novo, vida nova. 2010 foi o ano mais intenso da minha vida.
Agora compreendo que doar órgãos representa o mais profundo desprendimento humano, porque na verdade, somos o próprio instrumento da doação. Sandra deve sentir um pouco do que Cristo vivenciou quando se doou por inteiro para nos salvar. Obrigado, meu anjo da guarda, por ter me devolvido a vida. Você estará para sempre dentro de mim.