Por que há tanta intolerância no mundo? É possível evitar a contaminação por esse sentimento na nossa vida? Como reagir diante dessa ameaça estabelecida? Adilson Aviz, psicólogo, professor e coordenador do curso de psicologia da Unisociesc de Joinville (SC), avalia esse e outros comportamentos emocionais negativos. Na opinião dele, a intolerância tem como base a frustração. “As pessoas não estão conseguindo lidar com sentimentos negativos e fazem confusão entre fantasia e realidade. O resultado é essa carga pesada de intolerância que se vê todos os dias por aí”, define o psicólogo. Nesta entrevista, após palestra proferida no Encontro Mensal da Fundação Pró-Rim em 24/10, Aviz ensina técnicas simples para se afastar da intolerância, desenvolver a inteligência emocional e revestir a vida com mais leveza.
Ele explica que antigamente era comum se expressar assim: “seria bom se eu morresse. Com a minha morte, eu iria aliviar a vida. Ou então, vou te dar um tiro ou um soco na cara”. Para o psicólogo, geralmente as pessoas não materializavam essas intenções. Ficavam apenas na retórica, como força de expressão, para demonstrar desprazer momentâneo. “Hoje, elas concretizam pensamentos ruins, vão às ultimas consequências, matam, dão socos e tiros. Outras não sabem lidar com a culpa e acabam se suicidando, ou seja, tornam-se justiceiras delas próprias”, conclui.
Na avaliação de Adilson Aviz, as pessoas estão cada vez mais fragilizadas emocionalmente. Não conseguem suportar as exigências da vida, impostas pelo mundo atual e cedo ou tarde acabam somatizando. Muitas vezes entram em crise de ansiedade e sofrem com a depressão. Isso acontece muitas vezes pelo desconhecimento dos aspectos emocionais. “Tão importante quanto cuidar da saúde física é despertar para a inteligência emocional, que é a base de tudo”, recomenda.
Compreender as emoções
Ele alerta para os perigos de se conviver com as emoções sem compreendê-las: “As emoções são parte perigosa da nossa estrutura. Não dá mais para enfrentar esse universo sem compreensão. Chamamos esse conhecimento de inteligência emocional. É quando começamos a sentir algumas reações em nível de organismo e começamos a identificá-las como algo que faz sentido ou não para a vida da gente”, define o psicólogo.
Para ele, o nosso cérebro ainda está muito mais na savana africana, onde tudo começou, quando os medos eram rudimentares, diferentes daqueles que sentimos nos dias atuais e acrescenta: “Hoje deveríamos estar aproveitando os momentos de segurança com mais conforte e tecnologia, que criamos ao longo dos séculos. Apesar disso, estamos dando um jeito de somatizar. Ficamos doentes, emocionalmente falando, porque desenvolvemos ansiedade e depressão; porque não sabemos aproveitar aquilo que conquistamos em termos de evolução humana. De certa forma, ainda estamos numa savana africana”, compara o psicólogo.
Inteligência emocional
Adilson Aviz explica que Inteligência emocional é um tema extremamente relevante para as pessoas identificarem essas questões em via de organismo, em via de corpo e interpretar isso em nível mental, psíquico e, dessa forma, conseguir aproveitar melhor a vida. Segundo ele, a gente vê muitas técnicas, muitos conceitos, que para a maioria das pessoas é difícil de entender. “Um exemplo típico é que nós, culturalmente falando, desenvolvemos muito pessimismo. Somos extremamente críticos, muito exigentes, não só em relação às pessoas, mas com a gente mesmo. Então, acabamos desenvolvendo um limiar de exigências maior do que conseguimos entregar, para justamente nos frustrarmos”.
Aviz expande o seu raciocínio: “Eu chamo isso de comportamento de autossabotagem. A primeira coisa que as pessoas poderiam monitorar nas suas vidas é justamente o que elas estão fazendo sem saber, e que podem causar nelas uma reação negativa. Um exemplo é quando está tudo bem na minha vida. Então, vou dar um jeito de estragar. Aí brigo com uma pessoa que não precisava, compro alguma coisa que não consigo pagar ou desfaço-me de algo que me arrependerei” resume.
Culpa e autopunição
Para o psicólogo, essa autossabotagem é um jeito de azedar as nossas relações e violar a estabilidade emocional. “Quando você reflete mais profundamente sobre isso, chega à conclusão que provocou essa situação. Quando a gente se manifesta usando só a emoção, naquele momento tenso, não pensa nas consequências e se arrepende. O arrependimento é um sentimento de culpa muito pesado. É quando os medos e receios se afloram na mesma proporção. Neste estágio as pessoas encontram a culpa e aplicam a autopunição”, descreve.
No entendimento do psicólogo, não é sem sentido que a gente vê hoje uma grande quantidade de suicídios. Pessoas que se automutilam, por conta de não saber lidar com as consequencias das suas ações. E tudo isso avança para o gatilho que aciona a crise de pânico, que é o pico máximo da crise de ansiedade. Ele acrescenta: “Na verdade não nos diz muita coisa. É apenas o sintoma, a ponta do iceberg. Essa pessoa pode estar com estresse pós-trauma, transtorno de ansiedade generalizada, pode estar com TOC, com fobias específicas, a gente não sabe”.
Segundo ele, o pânico está a mostrar a crise de ansiedade. “Tem pessoas que manejam o pânico, mas não resolvem a causa. Se você fizer um exercício e começar a pensar sobre as coisas boas que aconteceram durante o dia, vai lhe trazer uma resposta maior do que criticar as coisas ruins que ocorreram no mesmo período. Isso a gente já sabe. O que não conseguimos, muitas vezes, é identificar as pessoas que nos fizeram bem e o bem que fizemos para as pessoas”.
Sentido da vida
Enfim, nesta soma, enfatiza Aviz, são as ações positivas que nos dão uma perspectiva melhor de viver. Elas estabelecem um sentido para a leveza da vida. “Hoje as pessoas dizem que não conseguem enxergar sentido pra vida. Então, vou recomendar três coisas fundamentais para se levar a vida com mais leveza: dormir bem (uma noite de sono é fundamental para a gente enfrentar o cotidiano); alimentação saudável e fazer regularmente exercícios físicos. Na outra ponta, é importante rebaixar um pouco o nível de exigência e começar a valorizar as coisas simples da vida”, ensina o professor.
“Eu sempre digo que nós não tropeçamos em montanhas ou prédios e sim em pequenos obstáculos. E essas pequenas coisas, quando acumuladas, destroem casamentos, famílias, empregos, profissões e tantas conquistas ao longo da vida. Então, se a gente começar a fazer o inverso e prestar atenção nos detalhes, certamente a vida vai mudar para melhor. Também recomendo a prática do elogio, que é um importante exercício de saúde mental. Nós somos pessoas educadas, agradecemos, damos bom dia, boa tarde, mas não sabemos elogiar e nem receber um elogio”, entende Adilson Aviz.
Leo Saballa
29/10/2019