“Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio. Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca. Porque metade de mim é o que eu grito e a outra metade é silêncio”.
Apesar da aparência tímida Jane Maria dos Santos Lima, 44 anos, não hesita quando precisa expressar seu lado artístico.
Calmamente vai cantando um trecho da música acima “Metade” de Oswaldo Montenegro, usada para dar nome e conduzir uma das peças que ela mesmo escreveu. Quando fala de dança e arte Jane se emociona.
É quase impossível para ela conter as lágrimas ao se lembrar da rotina que tinha como coordenadora de eventos, artista e professora de artes na cidade de Macapá (AM).
Jane veio para Joinville em março de 2010 na busca do tratamento renal oferecido pela Fundação Pró-Rim. Ela foi diagnosticada com Lúpus em 2001 e em consequência, depois de lutar anos contra a doença, seus rins pararam. Em Macapá (AM) o tratamento dialítico é precário e a possibilidade de transplante difícil, por isso Jane teve que sair para se tratar, chegando até a Pró-Rim.
Por estar com o Lúpus ativo a macapaense ainda não pode entrar na lista por um transplante de rim e precisa dialisar 3 vezes por semana. Paralelo às sessões ela continua o tratamento para controlar o Lúpus.
“Às vezes me sinto sem forças e penso que só um milagre irá me salvar. Nestes momentos coloco uma música bem alta, clássica de preferência, e começo a dançar. Esta é a única forma que encontro para superar meu problema e recuperar minhas energias”.
Em maio deste ano Jane esteve entre os pacientes convidados para visitar a Escola do Teatro Bolshoi em Joinville no Dia Mundial da Dança.
Esta foi a primeira vez que a professora viu uma apresentação ao vivo do grupo. “Quando começaram a dançar me imaginava no palco e recordei a época em que podia expressar através do corpo minhas emoções, coordenar meu projeto “Arte em Movimento”, fazer coreografias e escrever peças. Foi um momento de alegria e também de tristeza”, recorda.
O amor pela arte
Jane é daquelas pessoas que luta pelo que ama e aprende pela força de vontade. Assim, desde pequena sempre se entregou para o universo da arte de corpo e alma.
Aos 16 anos iniciou suas atividades profissionais em apresentações regionais e que ressaltavam a cultura da região. Em Macapá o lado artístico cultural é fortemente elevado.
Têm o Carimbó, o Batuque e o Marabaixo (estilos de dança), apresentações com apelo religioso e incentivo ao desenvolvimento da arte. Tudo isso fez com que Jane aprimorasse o talento, se formando professora de arte e educação pela UNIFAP – Universidade Federal do Amapá e montando o grupo de dança e teatro “Arte em Movimento”.
“Éramos um grupo de 25 pessoas e por 5 anos conseguimos ganhar destaque na região com ajuda de instituições, secretaria da cultura e prefeitura para que nos apresentássemos”, completa.
Quando parou com as atividades devido ao Lúpus Jane recorda que o grupo foi convidado para se apresentar internacionalmente na Guiana Francesa. Além disso, outros convites importantes ainda estão guardados na caixinha das melhores lembranças.
Mesmo não podendo voltar ainda à vida artística e a dança Jane fica feliz por saber que muitos dos alunos e membros do grupo seguiram seus passos. “Quero voltar, mas ainda não é o momento, pois para mim a arte é tudo. É a expressão do corpo, da vida, da alma. É a nossa essência e se for para voltar quero estar inteira nos palcos”, desabafa.