Gisele perdeu seu filho para a doença renal e decidiu mudar a sua história para salvar vidas.
No 7º semestre da disciplina de Saúde da Criança e do Adolescente Hospitalizado, a estudante de enfermagem Gisele Fabiane Zimmermann Custodio foi estimulada pela professora Lidiane Ferreira Schultz, a criar um brinquedo que pudesse ser usado na abordagem do tratamento renal substitutivo.
Então surgiu uma boneca, que simula um paciente com todas as dificuldades impostas pela insuficiência renal crônica. Além de ajudar os pacientes a compreenderem melhor o que irão enfrentar, a boneca também estende a sua representação para o conhecimento dos profissionais e o entendimento da família sobre a evolução da doença em todas as etapas e como reagir diante dela.
Gisele mora em São Francisco do Sul (SC). Ela é formada em Gestão Financeira, mas optou em mudar para a área da saúde e atualmente está cursando o 8º semestre de Enfermagem em uma faculdade de Joinville (SC). Ela perdeu o filho Leonardo, de 12 anos, para a doença renal. O sofrimento desta perda a fez ver na nova atividade uma forma de realização ao cuidar das pessoas, assim como ela fazia com o seu filho.
A doença do filho
A vida de Gisele mudou radicalmente quando ela passou a se dedicar em tempo quase integral ao filho mais novo, Leonardo. Ele nasceu com uma doença renal e fazia acompanhamento na Fundação Pró-Rim, sem, no entanto, apresentar qualquer intercorrência mais grave. Em 2014, porém esse quadro de insuficiência renal se agravou e ele precisou fazer diálise peritoneal e depois a hemodiálise. O menino entrou em lista para transplante. Conseguiu fazer a cirurgia em janeiro de 2016 em Curitiba (PR), mas infelizmente devido a rejeição aguda veio a falecer em oito meses.
Gisele foi aconselhada pelo nefrologista pediátrico Dr. Arthur Ricardo Wendhausen e o nefrologista Dr. José Aluísio Vieira, um dos fundadores da Fundação Pró-Rim, a seguir um caminho profissional diferente, porém, mais gratificante. “Eles me sugeriram cursar enfermagem, pois viam em mim um jeito especial para a profissão, devido aos cuidados que tive no dia-a-dia com o meu filho. Então descobri a satisfação que sentia em trabalhar com pessoas em terapia renal substitutiva, principalmente crianças”, destaca Gisele.
-Você tem cuidado da saúde renal do seu filho? Leia aqui as orientações dos especialistas.
A boneca
Sobre as funções práticas da boneca, entre outros benefícios importantes, ela destaca a diálise peritoneal. “Através da bolsa e do cateter flexível implantado na boneca, podemos simular o processo dialítico, trabalhar a questão dos cuidados com a ferida operatória do cateter e outras atenções como curativo, sinais de infecção, maneira correta de limpeza, tempo e forma de preparo para o procedimento”, descreve a entusiasmada estudante de enfermagem.
Ela acrescenta que “no pescoço da boneca tem cateter para a hemodiálise, forma de fazer o curativo, familiarização com os locais de inserção deste cateter, entre outros pontos relacionados à hemodiálise”, explica. Outro ponto também de possível abordagem, diz Gisele, é a localização, anatomia, o formato, peso e tamanho dos rins para auxiliar na compreensão.
“A boneca nos permite trabalhar em ambientes hospitalares com os pacientes e seus familiares, quando for necessário explicar sobre os tipos de tratamento renal substitutivo, além de aproximar o paciente e a sua família com os procedimentos que eles realizarão. Possibilita ainda familiarizar a pessoa com o cateter, hemodiálise, diálise peritoneal ou a fístula”, reforça.
Equipamento de educação
Ela descreve mais benefícios que a boneca pode trazer envolvendo treinamento e educação permanente com a equipe de saúde, enfermeiros, técnicos e equipe multiprofissional quanto ao manejo, cuidados e rotinas. Segundo ela, é muito útil na estratégia de saúde da família para treinamento domiciliar, preparo e orientações anterior e posterior à alta hospitalar e segurança do paciente, já que previne infecções, perda e obstrução do cateter.
Segundo ela, a boneca também permite fazer simulações e treinamento com possíveis problemas durante a terapia renal substitutiva. “É possível trabalhar o preparo do enfermeiro da atenção primária à saúde, além de fazer estratégias de simulações para os alunos, enfermeiros, de modo geral e profissionais no processo de formação acadêmica”, garante Gisele.
Ela adianta que o nome da boneca é Teresa. E explica: Te (terapia), Re (renal) e Sa (substitutiva). O próximo passo, garante a futura enfermeira, é patentear a boneca para que ela seja comercializada e assim, na prática, ajudar muita gente que precisa.