Não é o seu nome oficial nem oficioso. Mas poderia ser. Cidade de encantos mil e títulos vários; nobre: dos príncipes; útil: das bicicletas e artístico: da dança. Poderia também ser das máscaras. Máscaras que não dissimulam emoções, que não esconde sentimentos, que não amedrontam e nem escandalizam. Máscaras que são marcos. Divisores de tempo e de vida. O Antes e o depois simbolizados em disfarces – máscaras! Veneza, cidade das máscaras e das emoções forte -não é de ti que estou falando.
Conta a história que um povo cativo saiu errante pelo deserto rumo à terra da liberdade; ainda segundo a história foram necessários 40 anos de peregrinação… o tão falado êxodo do povo Hebreu. Respeitadas as proporções, o paciente renal em tratamento de hemodiálise também é um errante a busca de um hospital que o acolha quando então passa a ser um cativo. Seu mês comercial tem apenas 28 dias haja vista que passa 48hs/mês literalmente preso a uma máquina. O aparelho que simboliza uma possibilidade de permanência na esperança de libertação. É o passo em compasso de espera.
Em nosso caso, quando aqui chegamos éramos como o povo hebreu, estávamos em uma peregrinação em busca de nossa liberdade! Meu Marido, Magalhães, homem de palavras raras e mansas, fala pouco meu marido, muito pouco! Mas não tem problema eu falo por nós dois. Ele estava aprisionado na hemodiálise e como nosso estado de origem, Mato Grosso, não possui equipe de transplante renal, saímos em busca da liberdade, com pouco conhecimento e muita esperança.
Nesse estágio os sentimentos formam um torvelinho de crença, esperança, fé, desejo e medo numa efervescência enlouquecedora. Arribamos para a cidade das máscaras e encontramos uma equipe. Equipe essa que é sinônimo de acolhimento, empatia e humanidade. A ideia inicial: Uma consulta e voltar para casa. Analisar todas as probabilidades, comparar as possibilidades e decidir para onde seguir. O que escolher entre todas as perspectivas elencadas. Uma guinada de 180º. Do plano original, voltar para casa após a consulta, nada ficou… nunca mais voltamos para Cuiabá-MT.
A Instituição Pró Rim, ou seja, a equipe de profissionais que formam a Fundação Pró Rim não tem ideia do que representa para os retirantes como nós. Não aquilata a sua real relevância. Os senhores fizeram vestibular para anjos e gabaritaram todas as provas, foram aprovados com nota máxima. E já foram promovidos a arcanjos. Com 83 dias de tratamento na Fundação ganhamos nossa carta de alforria, o tão sonhado transplante. Nova experiência, Hospital Municipal com um grupo de apoio sem retoques.
As adversidades existem, mas são dribladas em gol de placa pela equipe. Em 28 dias de confinamento, todas as angústias se afloram, todos os pavores se apresentam, mas a equipe segura, apoia e quando o cuidador pensa que se esgotaram todas as suas forças, surge como passo de mágicas a carta de alforria assinada. Vamos para casa. Usar a máscara na cidade das máscaras, de nome de príncipe, Joinville, não assusta e nem constrange ninguém, provavelmente é mais um transplantado. Cidade que adotamos como nossa por um só motivo: sedia a mentora de nossa liberdade: A Fundação Pró Rim.
Dedicamos nossa perene gratidão a todos que fazer desta Instituição um organismo vivo e generoso; um mar de esperanças!
Por: Estelita Magalhães