O uso de agrotóxicos na produção agrícola e a contaminação dos alimentos por estes elementos tóxicos têm sido preocupações no âmbito de saúde pública. Um estudo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), iniciado em 2001, mostra que muitos dos alimentos que consumimos normalmente estão contaminados.
Especialistas afirmam que o agrotóxico no alimento, ao ser ingerido pela população, tem um efeito cumulativo. Pode levar a algum tipo de doença crônica não transmissível de caráter neurológico, endócrino ou imunológico. Além disso, pode estar relacionado ao aparecimento do câncer e à infertilidade devido à diminuição do número de espermatozóides.
O Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), realizado pela ANVISA em conjunto com os órgãos estaduais e municipais de vigilância sanitária e laboratórios estaduais de saúde pública, analisou diversos legumes, frutas e vegetais para ver o quão contaminados eles estavam. Desde a criação do PARA já foram analisadas mais de 30.000 amostras referentes a 25 tipos de alimentos de origem vegetal.
Entre 2013 e 2015, foram analisadas 12.051 amostras de alimentos de origem vegetal representativos da dieta da população brasileira: abacaxi, abobrinha, alface, arroz, banana, batata, beterraba, cebola, cenoura, couve, feijão, goiaba, laranja, maçã, mamão, mandioca (farinha), manga, milho (fubá), morango, pepino, pimentão, repolho, tomate, trigo (farinha) e uva.
Do total das amostras monitoradas, 80,3% foram consideradas satisfatórias, sendo que 42,0% destas não apresentaram resíduos dentre os agrotóxicos pesquisados e 38,3% apresentaram resíduos de agrotóxicos dentro do Limite Máximo de Resíduos (LMR), estabelecido pela Anvisa. Foram consideradas insatisfatórias 2.371 amostras (19,7%), sendo que 362 destas amostras (3,00%) apresentaram concentração de resíduos acima do LMR e 2.211 (18,3%) apresentaram resíduos de agrotóxicos não autorizados para a cultura.
Importante também destacar que os agrotóxicos aplicados nos alimentos têm a capacidade de penetrar no interior de folhas e polpas do vegetal, e que os procedimentos de lavagem e retirada de cascas e folhas externas das mesmas, apesar de incapazes de eliminar aqueles contidos em suas partes internas, favorecem a redução da exposição aos resíduos de agrotóxicos, principalmente quando a casca é comestível.
Para diminuição dos níveis residuais de agrotóxicos na casca, recomendamos lavagem com água corrente, podendo-se utilizar também uma bucha ou escovinha destinadas somente a essa finalidade, considerando que a fricção igualmente auxilia na remoção de resíduos químicos presentes na superfície do alimento. A higienização dos alimentos com solução de hipoclorito de sódio tem o objetivo de diminuir os riscos microbiológicos, mas não de eliminar resíduos de agrotóxicos.
Deve ser considerada a escolha por alimentos oriundos da agricultura orgânica ou agroecológica, os quais contribuem para a manutenção de uma cadeia de produção ambientalmente sustentável. Ressalta-se que o Ministério da Saúde recomenda que os alimentos in natura ou minimamente processados, em grande variedade e predominantemente de origem vegetal, devem ser a base de uma alimentação nutricionalmente equilibrada, saborosa, culturalmente apropriada e promotora de um sistema alimentar socialmente e ambientalmente sustentável.
Fonte:
ANVISA. Resíduos de agrotóxicos em alimentos. Revista de Saúde Pública 2006; 40(2)361-3.
ANVISA. Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA). Relatório 2013-2015. Brasília, 25 de novembro de 2016.
Por: Rafaela Gonzaga dos Santos, nutricionista da Fundação Pró-Rim