No dicionário encontramos a seguinte descrição da palavra Amigo: “é o nome que se dá a uma pessoa que mantém um relacionamento de afeto, consideração e respeito por outra pessoa. O amigo é aquele que é leal, que protege e faz o possível para ajudar sempre o outro.” A história de Amélia e Maria do Socorro, pacientes renais da Fundação Pró-Rim, traz esse verdadeiro significado da amizade.
O tratamento de diálise muitas vezes pode ser “frio” e solitário. O fato de uma pessoa ter que deixar o exercício profissional, seus afazeres domésticos ou as atividades que lhe dão prazer, para dispor seu tempo a uma “máquina”, pode remeter a um cenário de tristeza e decepção. Mas em meio aos procedimentos da sessão, as risadas altas e espontâneas de duas pacientes mostram que a alegria pode trazer novas “ares” para o local.
As risadas são ouvidas do canto da sala de hemodiálise, onde as duas pacientes, sentadas lado a lado, conversam sobre todos os assuntos inimagináveis e não seguram os risos com os “causos” vividos. A amizade entre Amélia R. da Silva Santos de Lino e Maria do Socorro A. Santana parece vir da infância, mas surgiu com a acolhida e muito apoio em meio a chegada de uma jovem a cidade de Joinville (SC).
O primeiro contato entre as duas foi em maio de 2014, vinda de Palmas (TO), Socorro chegou à cidade para aguardar o processo do transplante. Ao lado de sua mãe, ela procurou auxílio e moradia na Associação dos Pacientes Renais, onde conheceu a atual amiga. Em setembro do mesmo ano, depois de passar pelo transplante, Socorro volta para sua cidade natal. Durante este período o contato entre as duas era de poucos encontros e sem muitas histórias.
Infelizmente, em decorrência da perda do órgão transplantado, Socorro teve de voltar para Joinville, onde retomou as sessões de hemodiálise. “Quando encontrei ela novamente, tinha muita tristeza no seu olhar, quase não conversava. Percebi que precisava de uma amiga, de alguém para dar apoio”, recorda Amélia. O destino, ou Deus – a quem elas remetem a oportunidade, fez com que as duas fizessem as sessões de diálise no mesmo dia e horário.
A partir daí, não se desgrudaram mais. “Depois das sessões íamos ao shopping, fazer compras, tomar café. Sempre tinha muito assunto. Nós nos encontramos, completamos uma a outra. Eu sou a loucura que faltava na serenidade dela”, conta sorridente Socorro.
Amizade que resultou em negócio
Além de amigas, elas são empreendedoras do próprio negócio. A amizade iniciada entre as “máquinas”, resultou também no projeto de venda de trufas. O que era pra ser uma atividade sem perspectiva, se tornou em geração de renda.
O carisma e o sabor delicioso dos bombons agradou aos pacientes e funcionários da Pró-Rim, com isso novos sabores foram surgindo e a demanda de produção foi aumentando. “Só vamos parar com as trufas quando não houver mais vontade da nossa parte. É um trabalho que fazemos com carinho, pensando nas pessoas que vão comprar”, comenta Socorro.
União para vencer o tratamento
Elas concordam que a presença de um amigo durante as sessões de hemodiálise faz toda diferença. “Eu venho para a hemodiálise mais feliz, porque sei que vou encontrar a Amélia”, conta Socorro. A conversa entre as duas flui naturalmente, e muitas vezes nem percebem que estão em tratamento. “Nem sempre saímos bem das sessões, mas só o fato de ter com quem compartilhar o momento e passar o tempo conversando, já nos sentimos melhores”, completa Socorro, a mais falante.
Sobre o fato de uma delas vir a fazer o transplante, a felicidade pela outra será imensa, mesmo que tenha a ausência da amiga nas sessões. “Nossa amizade não vai acabar se a outra deixar o tratamento. É uma amizade para sempre”, enfatiza Amélia. “Nós torcemos uma pela outra. Deus sabe o que faz. Sempre coloco ela em minhas orações, quer comprovação maior que essa da nossa amizade?”, complementa Socorro.
Afeto, compaixão e lealdade, os adjetivos que descrevem um “amigo” são o resumo da história de Amélia e Socorro. Um exemplo que os obstáculos podem fortalecer ainda mais uma amizade.