Sérgio Vieira Alves tem 45 anos, casado, três filhos. Morava em Porto Velho (RO) e trabalhava até 18 horas por dia com garimpo, na extração de ouro no Rio Madeira. Era proprietário de uma balsa e o seu faturamento chegava a R$18 mil por semana. “Eu estava numa fase de muita ambição. O dinheiro era o que mais importava para mim”, recorda. Ele acredita que de tanto manusear produtos químicos e conviver com a insalubridade, ao longo dos anos, perdeu os rins e precisou de hemodiálise.
A partir daí, a sua vida mudou. Ele passou a depender da máquina de diálise e a sua renda se resumiu a um salário mínimo de auxílio doença. Tudo isso agravado com a fragilidade imposta pela doença renal crônica. Sérgio decidiu então reagir e começou a pesquisar sobre como enfrentar essa doença. Entrou na lista de espera por um transplante em Porto Velho, por um ano e dois meses e nada aconteceu. Para ele, naquela região do Brasil faltam campanhas de conscientização para doação de órgãos. “A falta de informação foi o que me fez perder os rins”, admite.
Descobriu que em Santa Catarina a lista do transplante anda muito rápida. Então resolveu viajar para Joinville (SC) e se habilitar à cirurgia na Fundação Pró-Rim, referência nacional em transplante renal. Convenceu o colega de hemodiálise, Eudimar Bezerra da Silva, 41 anos, a também viajar e se submeter ao transplante. Sérgio foi o primeiro a chegar e uma semana depois veio Eudimar.
O que Sérgio não imaginava é que em poucos dias após a sua entrada na lista de espera para o transplante em Joinville, ele seria chamado para receber o órgão, doado por uma família generosa que acabara de perder um ente-querido. Quando chegou ao hospital notou a presença do amigo Eudimar. Só então ficou sabendo que pelos critérios de compatibilidade, os dois seriam beneficiados cada um com um rim do mesmo doador, no mesmo dia.
Esta história incrível aconteceu em 02 de setembro de 2017. O transplante duplo dos amigos foi bem sucedido e Sérgio se diz emocionado com o atendimento que recebeu na Fundação Pró-Rim. “Os pacientes são tratados pela equipe com muito respeito e dedicação. Da zeladora que faz a higienização ao médico-cirurgião, há um clima familiar de muita harmonia. O sentimento de carinho que eles dedicam aos pacientes foi o que mais me marcou nesta instituição”, destaca. “Ganhei uma nova vida e quero aproveitá-la ao máximo, durante muito tempo” diz o transplantado, que garante se sentir muito bem de saúde e bastante motivado a recomeçar a vida.
Já Eudimar resumiu o que vivenciou: “eles devolveram a minha liberdade de viver e estou me sentindo outra pessoa, com mais saúde e disposição para me dedicar ao casal de filhos e à minha mulher. Agradeço à equipe da Fundação Pró-Rim e ao meu amigo Sérgio que me fez ver a importância de viajar para Joinville”.
Depois do transplante, Sérgio garante que convenceu 10 pacientes renais de Porto Velho a fazer o transplante na Fundação Pró-Rim. Segundo ele, seis já estão na cidade, alguns hospedados na sua casa. “Os outros vão chegar. Estou fazendo a minha parte para retribuir o que recebi”, assegura.
Quando voltar para a sua cidade, ele quer se dedicar às campanhas de doação de órgãos. “Depois de tudo o que aconteceu comigo, é o mínimo que eu posso fazer para demonstrar a minha gratidão”, define o ex-garimpeiro.