Pouca gente ouviu falar de Luiz Carlos Silva dos Santos. Mas o Tronxinha, todo mundo na região de Herval do Oeste sabe quem é. O apelido surgiu quando ele ainda era garoto, caiu em cima de uma cerca e teve uma pequena parte da orelha decepada. Tronxinha tem 61 anos e nasceu em Porto Alegre (RS). Foi jogador de futebol profissional entre os anos 70 e 80. Era volante e começou nas categorias de base do Internacional. Depois Jogou em vários times do Rio Grande do Sul, entre eles Juventude, São José e Santa Cruz. Encerrou a carreira cedo, em Joaçaba (SC), aos 31 anos de idade, por conta de um reumatismo que afetou as articulações. Permaneceu depois no futebol como técnico do Joaçaba.
Mas, o reumatismo avançava, mesmo depois de ter parado de jogar. Para aliviar as dores, nos anos seguintes, ingeriu antibióticos sem controle. Alertado por um médico amigo da família sobre os perigos da automedicação, Tronxinha fez os exames que diagnosticaram a insuficiência renal crônica. A providência imediata foi o início do tratamento por hemodiálise, onde permaneceu por quase dois anos, até o transplante em 2011, com a equipe da Fundação Pró-Rim, no Hospital São José de Joinville.
Há 22 anos criou um projeto social filantrópico para afastar meninos das ruas, na região e inseri-los no universo do futebol. Nascia a Associação Esportiva e Cultural Esperança, no Estádio Municipal de Herval d’Oeste, cidade onde ele mora desde 1975. Naquele espaço, além de um campo de futebol, 170 meninos de sete a quinze anos, muitos oriundos de famílias em vulnerabilidade social, têm à disposição lanches, uniforme esportivo além de orientação sobre o futebol e a vida. “Boa parte deles não têm o que comer em casa e se alimentam aqui, após os treinos”, explica Tronxinha.
Com freqüência eles participam de competições na região. Todos que chegam são encaminhados para escolas e cuidados com a saúde. O ex-jogador também promove a disciplina dos futuros atletas através do aconselhamento e palestras de profissionais, voltados à cidadania. Para ele, “mais importante que transformá-los em jogadores famosos é a certeza que todos terão oportunidade de se tornarem cidadãos de bem, inseridos na comunidade onde vivem”. Mesmo assim, Trouxinha sente orgulho em afirmar que alguns garotos já foram encaminhados como promessas para equipes profissionais, incluindo um para a Chapecoense e outro para o Atlético Paranaense, na categoria sub 17.
A Associação Esperança não recebe nenhuma ajuda do poder público e Tronxinha não tem qualquer tipo de remuneração por este trabalho. O projeto é mantido por um grupo de 10 famílias da comunidade que faz doações mensais para a manutenção das despesas. “Eu me vejo em cada garoto que chega aqui. Todos eles têm o sonho de crescer na vida, impulsionados pelo futebol. A minha missão é manter acesa a esperança e não fazê-los desistir deste sonho”, diz Tronxinha, emocionado.
O resultado de toda essa dedicação e amor ao que faz, é que ele será homenageado com o título de Cidadão Honorário de Herval d’Oeste. Projeto neste sentido foi aprovado pela Câmara de Vereadores.
Os meninos se espelham nele que é um vencedor no esporte e na vida e depositam no “professor” toda a esperança de também alcançar muitas vitórias dentro e fora do campo.