Logo que seu filho Israel nasceu Jane de Paula soube que ele tinha uma doença renal genética chamada Síndrome Nefrótica, ou simplesmente Nefrose. Quatro anos depois teve seu segundo filho, o Ígor, que também foi diagnosticado com a doença.
Jane sofreu muito com o primeiro diagnóstico e seu coração ficou ainda mais apertado pela segunda notícia. Seus dois filhos teriam que fazer o tratamento medicamentoso e futuramente provavelmente precisariam fazer hemodiálise e, sem data nem hora, um transplante de rim. “Foi difícil acreditar que a doença existia. Eles não sentiam nada e aparentemente parecia que tudo estava normal, mas eu sabia da gravidade”, Jane.
Com auxílio e acompanhamento do pediatra, hoje especialista em nefrologia infantil, Dr. Artur Ricardo Wendhausen, Jane encarou tudo com muita dedicação, acompanhando sempre de perto o tratamento dos filhos. A mãe e marido, na época, ajudavam, mas o cuidado maior vinha dela.
O tempo foi passando e entre 17 e 18 anos Israel, o filho mais velho, começou a perder a função renal. Sentia-se mais cansado, fraco e com enjoos. Rapidamente ele teve que entrar para a hemodiálise, uma rotina difícil de aceitação. Mas sua mãe estava ali do lado, persistindo com paciência e muito amor.
Decisão difícil
O exame de compatibilidade feito entre Jane e Israel foi positivo e ela não pensou duas vezes para dizer sim a doação. “Quando a Dra. Luciane me perguntou se queria doar meu rim aceitei na hora, pois daria a vida por ele”, completa. Mas tinha o Ígor que também poderia precisar do transplante um dia. “Lembro que ele falou: mãe e eu? Quem irá doar o rim para mim?”.
O mundo caiu sobre a cabeça de Jane. Era uma decisão difícil, talvez a mais complexa de sua vida e ela superou com auxílio da família, da Fundação Pró-Rim e de Deus, como destaca: ”Coloquei nas mãos de Deus e pedi que fosse feita a vontade dele, por mim doaria os dois e entraria em hemodiálise, eu queria ver meus filhos bem”, afirma.
O sacrifício pensado por Jane era impossível e foi descartado em um exame de incompatibilidade com Ígor. A família ficou mais aliviada pela notícia, mas ao mesmo tempo aflita pelo futuro do menino.
Transplante, o renascimento
Israel fez hemodiálise na Pró-Rim por dois meses antes do transplante, realizado no Hospital São José no dia 22 de novembro de 2010. Durante a internação ele e Jane lembram que tudo parecia surreal e que a separação minutos antes da cirurgia foi difícil. Pensaram no procedimento, em como tudo ocorreria e na pós-cirurgia. “Foi tudo muito rápido. Quando voltei da anestesia só pensava em minha mãe e comecei a pedir por ela compulsivamente”, relata Israel.
Jane teve a mesma sensação de quando o filho primogênito nasceu. “Eu pedia por ele, queria vê-lo, saber como estava, olhar no olho”, emociona-se. O encontro logo aconteceu, e a troca de olhares valeu pelas palavras que representaram naquela hora agradecimento e alívio.
A cirurgia foi excelente e a recuperação também. Igor ao ver o irmão transplantado ficou feliz por ele e passou a entender e compreender a decisão de sua mãe. Hoje Israel de Paula tem 21 anos, namora, trabalha e cursa a Faculdade de Logística, a qual conclui neste ano, 2013.
Igor está com 17 anos, continua fazendo o tratamento com medicamentos e tem a mesma rotina entre trabalho e estudo. Eles procuram não pensar com preocupação em tudo que vivem e viveram, mas com naturalidade importando-se com o hoje e vivendo um dia de cada vez.
“Tenho consciência que o transplante também é um tratamento e que preciso me precaver. O Ígor está numa fase de experimentar a vida, sair e curtir, mas tento passar isso para ele também. Jane continua dividindo sua vida entre a casa o trabalho e o acompanhamento dos filhos.
Ela sente muito orgulho em ser mãe e se pudesse teria outros. Olhando assim, de fora, não dá para imaginar tudo que essa família passou para estar hoje bem, saudável e feliz.
Uma troca que ultrapassa qualquer entendimento chegando ao inexplicável amor que existe entre mães e filhos.
Israel fez um vídeo para o Dia das Mães em 2011, seis meses depois do transplante como forma de agradecimento pela doação. Assista e acompanhe um pedacinho dessa homenagem.